Localizado na Estrutural, o equipamento melhorou as condições de trabalho dos catadores que, antes, viviam à sombra do antigo Lixão.
Agência Brasília 

O antigo Lixão da Estrutural, que por décadas foi cenário de trabalho árduo e precário para catadores de materiais recicláveis, agora é uma memória distante para aqueles que atuam no maior complexo de reciclagem da América Latina. Localizado a poucos quilômetros de onde o hoje desativado aterro sanitário funcionava, também na Cidade Estrutural, está o Complexo Integrado de Reciclagem do Distrito Federal (CIR-DF) – um dos mais modernos equipamentos públicos de reciclagem do país.

Obra com investimento de R$ 21 milhões, o Complexo Integrado de Reciclagem do Distrito Federal (CIR-DF) já garantiu o reaproveitamento de mais de 38,2 mil toneladas de recicláveis | Fotos: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

Construído e entregue pelo Governo do Distrito Federal (GDF) em dezembro de 2020, o espaço está situado em um terreno de 80 mil m² e tem capacidade para processar até 5 mil toneladas de resíduos por mês. Na ocasião, foram investidos R$ 21 milhões na construção do complexo, cuja gestão é compartilhada entre o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), a Secretaria de Meio Ambiente (Sema-DF), a Central das Cooperativas de Materiais Recicláveis do DF (Centcoop) e as associações de catadores que atuam no local.

Desde sua inauguração, o equipamento já garantiu o reaproveitamento de mais de 38,2 mil toneladas de recicláveis. “Graças a este importante equipamento público, temos conseguido reintroduzir esses materiais na cadeia de reciclagem. São toneladas de resíduos saindo todos os meses desse complexo e retornando ao setor produtivo, ou seja, voltando para as indústrias”, ressalta o chefe da Assessoria de Políticas Públicas da Sema, Glauco Amorim.


O chefe da Assessoria de Políticas Públicas da Sema, Glauco Amorim, diz que os equipamentos de última geração asseguram eficiência no processo de reciclagem

O CIR opera com duas Centrais de Triagem e Reciclagem (CTRs) e uma Central de Comercialização (CC). Todo o processo se inicia ainda nas CTRs, onde o material coletado seletivamente é separado, classificado, prensado e pesado. Em seguida, é encaminhado para a CC, onde passa pelas etapas de beneficiamento, estocagem e preparação para a comercialização.

Amorim ressalta que toda a operação do espaço é feita com equipamentos de última geração, o que garante eficiência e precisão no processo de reciclagem. “Recentemente, o GDF adquiriu novos equipamentos, já em fase de instalação e cuja aquisição contou com investimento aproximado de R$ 4 milhões, que irão melhorar processos de lavagem e segregação dos recicláveis e irão permitir colocar o produto dos catadores em outra prateleira, com maior valor agregado de até oito vezes o pago atualmente”, detalha o servidor.

Impacto social

“Para ter contrato com o governo, é preciso estar formalmente constituído e isso traz um ganho enorme para esses catadores, porque garante o acesso desses catadores a direitos básicos trabalhistas, como por exemplo o pagamento de INSS”

Francisco Mendes, chefe da Unidade de Sustentabilidade e Mobilização Social (Usmob) da Diretoria Técnica do SLU

O fechamento do antigo Lixão da Estrutural, em 2018, pelo SLU trouxe benefícios para o meio ambiente e para os catadores que trabalhavam no local em condições precárias e insalubres. Eles passaram a integrar o processo produtivo da reciclagem, como prevê a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), por meio da contratação do serviço de triagem das cooperativas e associações formadas exclusivamente por catadores.

Sendo assim, além de revolucionar a forma como o Distrito Federal lida com o reaproveitamento de resíduos, o Complexo Integrado de Reciclagem trouxe dignidade e melhores condições de trabalho aos catadores que, graças à inauguração do espaço, podem atuar longe dos riscos e da insalubridade do antigo lixão.


“Posso dizer que o complexo foi uma bênção; no Lixão, o trabalho era sob sol, chuva, sem equipamentos de proteção individual, ou seja, sem as ótimas qualidades de trabalho que temos hoje”, diz o diretor financeiro da cooperativa Associação Ambiente, Thiago Mendes

“Para ter contrato com o governo, é preciso estar formalmente constituído e isso traz um ganho enorme para esses catadores, porque garante o acesso desses catadores a direitos básicos trabalhistas, como por exemplo o pagamento de INSS. Só isso já garantiu a vários dos nossos catadores o direito a uma aposentadoria digna”, explica Francisco Mendes, chefe da Unidade de Sustentabilidade e Mobilização Social (Usmob) da Diretoria Técnica do SLU.

Para Thiago Mendes, ex-catador e atual diretor financeiro da cooperativa Associação Ambiente, a criação do CIR foi a certeza de um futuro mais digno. “Desde 2001 que trabalho com isso, sendo 14 anos dedicados ao trabalho no Lixão”, conta. “Hoje, posso dizer que o complexo foi uma bênção; no Lixão, o trabalho era sob sol, chuva, sem equipamentos de proteção individual, ou seja, sem as ótimas qualidades de trabalho que temos hoje”.

Atualmente, o DF possui mil catadores vinculados a uma das 31 cooperativas que mantêm 42 contratos para prestação de serviços junto ao governo. Deste total, 375 trabalham exclusivamente no CIR, sendo que 70% desses profissionais são mulheres.

Somado aos benefícios trabalhistas, os catadores também são compensados financeiramente pela comercialização dos recicláveis. Neste ano, de janeiro a junho, a atuação dos profissionais garantiu a separação de 5,7 mil toneladas de materiais, que retornaram ao setor produtivo, implicando um ganho financeiro de R$ 3.421.156,72 às empresas.