Dados da Marinha do Brasil apontam que apenas 1,78% dos postos de comando longo curso Mercante são ocupados por mulheres

Patrícia Soledade, Chefe de Máquinas da Seagems (foto: arquivo pessoal)

No setor offshore, a Seagems contabiliza histórias de profissionais mulheres que se destacam em posições ainda pouco ocupadas por elas no segmento. Izabel Borges é Comandante, posto máximo da equipe de Oficiais marítimos, e Patrícia Soledade é Chefe de Máquinas, cargo de liderança responsável pela manutenção das embarcações

Rio de Janeiro, agosto de 2024 – O Dia Internacional da Igualdade Feminina, celebrado em 26 de agosto, aumenta a visibilidade para diversas questões relacionadas ao tema, como a falta de equidade de gênero no ambiente profissional. Apesar de avanços consideráveis ao longo dos anos, as mulheres ainda se deparam com desafios substanciais, como a desigualdade salarial e a escassez de representatividade em posições de liderança. Esses obstáculos não apenas limitam o desenvolvimento individual das profissionais, mas também comprometem o potencial das empresas, que deixam de colher os benefícios da diversidade de perspectivas e talentos em suas equipes.

A situação mostra-se ainda mais desafiadora quando se analisa a presença feminina em cargos de liderança. De acordo com uma pesquisa da FIA Business School, em 2023, as mulheres ocupavam apenas 38% das posições de liderança no Brasil, apesar de representarem 43% do quadro total de funcionários. Esse desequilíbrio ressalta a sub-representação das mulheres nos níveis mais altos das organizações, mesmo com evidências de que elas são consideradas melhores gestoras, além de mais populares e confiáveis aos olhos dos colaboradores. Essa diferença evidencia a necessidade de empresas repensarem as práticas de promoção e desenvolvimento de talentos, a fim de garantir que o potencial feminino seja plenamente reconhecido e valorizado em todas as esferas profissionais.

No setor offshore (aquele que tem operações em alto mar), a Seagems, empresa brasileira especializada em soluções de engenharia submarina, tem olhado de forma atenciosa para o tema. A companhia contabiliza histórias de profissionais mulheres que vêm se destacando em postos ainda pouco ocupados por elas neste segmento, que é historicamente dominado por profissionais do sexo masculino. De acordo com dados da Diretoria de Portos e Costas Marinha do Brasil, o país conta atualmente com 638 Capitães de Cabotagem, dos quais apenas 65 (10,2%) são mulheres. Já na categoria de Capitães de Longo Curso, de um total de 789 aquaviários, 14 (1,78%) são mulheres.

Uma das posições de comando máximo entre os Oficiais de Náutica da Seagems hoje é ocupada por Izabel Borges (45). Comandante de um navio de porte elevado como os da companhia brasileira, Izabel faz parte do seleto grupo de mulheres com formação de Capitã de Cabotagem.

Izabel Borges, Capitã de Cabotagem na Seagems (crédito: Seagems)

Para ser comandante de navio é preciso se formar no curso superior de ciências náuticas. Esses cursos são oferecidos em escolas da Marinha Mercante, e existem somente duas no Brasil: o CIAGA, no Rio de Janeiro e o CIABA, em Belém. Ambas com concursos anuais de ingresso. Ao serem aceitos pelas escolas, os alunos precisam estudar pelo menos 3 anos em regime militar, no formato de internato. Após o término dos estudos são necessários mais 1460 dias de trabalho em alto mar para subir na hierarquia náutica.

Na posição de Comandante, Izabel é responsável por toda a navegação, pessoas e ativos da embarcação, bem como pela segurança e bem-estar dos envolvidos. O que parece uma história de destaque, também é uma trajetória que precisou de muita coragem. Nascida em Ibiá (MG), cidade com aproximadamente 22 mil habitantes, formou-se em Ciência da Computação em Araxá (MG), a 70 km de sua casa, caminho que percorreu diariamente durante os cinco anos de graduação.

“Trabalhava das 8h às 17h e pegava um ônibus para Araxá todos os dias para cursar a faculdade. Chegava em casa por volta de meia-noite. Foi um período cansativo, mas nunca pensei em desistir”, afirma a atual comandante. Logo que se formou, Izabel começou a estudar para concursos. Foi quando descobriu a carreira de Oficial de Náutica. Realizou todas as fases da prova às escondidas porque sabia que os pais, bastante conservadores, seriam contra. Foi aprovada e só contou à família 48 horas antes do embarque para Belém (PA), onde faria a formação.

O primeiro embarque de Izabel durou seis meses. De lá para cá, nunca mais deixou o mar. Em mais de 20 anos de profissão, fez viagens internacionais a bordo, passou centenas de dias navegando e atuou em diferentes áreas. Iniciou sua trajetória em navios petroleiros, migrou para manuseio de âncoras e, agora, atua em navios especializados para o lançamento de dutos da interligação de poços de petróleo às plataformas marítimas.

Para os profissionais da Marinha Mercante, sobretudo Oficiais de Náutica, os navios de Lançamento de Linha e Petroleiros são considerados “embarcações especiais”, que atuam com operações complexas. Acabam tornando-se desejo de consumo de quem caminha no ramo offshore, caso de Izabel. “Nunca me imaginei trabalhando na Seagems, pois, até então, eu não tinha experiência em Lançamento de Linha”, conta Izabel Borges.

Izabel Borges, Capitã de Cabotagem na Seagems (crédito: Seagems)

Em 2015, uma recrutadora da Seagems ligou para Izabel a fim de verificar seu interesse em atuar como Oficial de Náutica. Vaga aceita, Izabel já percorreu todos os navios da companhia e tornou-se uma das maiores referências femininas dentro da empresa. Atualmente, ocupa o maior cargo na área de Náutica – o de Comandante.

O dia 26 de agosto foi escolhido primeiro pelo Congresso dos Estados Unidos, em 1973, para celebrar as conquistas das mulheres ao longo dos anos e ressaltar a necessidade de debate e ações para a igualdade de gênero. A medida foi uma homenagem à aprovação, em 18 de agosto de 1920, da 19ª emenda à Constituição Americana, que garantiu o voto às mulheres norte-americanas e influenciou o movimento pelo direito feminino ao voto em todo o mundo. Esse direito é um marco histórico na luta pela participação política das mulheres e pela igualdade de gênero.

Na Seagems, histórias de equidade de gênero vêm virando rotina. É também o caso da carreira de Patrícia Soledade, Chefe de Máquinas da empresa, posto responsável por toda geração de energia, abastecimento de água, luz, funcionamento dos dutos e manutenção de uma embarcação. Cargo máximo da Marinha Mercante na categoria de Oficiais de Máquinas. A Chefe de Máquinas de uma embarcação chefia sua seção, supervisionando pessoal, condução e manutenção de instalações mecânicas, elétricas e eletrônicas.

Área dominada por homens, é comum relacionar a manutenção de equipamentos e esforços físicos ao público masculino. Para Patrícia, a equidade é valor difundido na Seagems, o que se reflete nos relacionamentos com seus subordinados e demais colegas de trabalho. “A empresa tem políticas claras de equidade de gênero, paridade salarial e intolerância à discriminação. Ingressei na Seagems há 10 anos como Terceira Oficial de Máquinas, passei para Segunda Oficial, depois para Primeira e, atualmente sou Chefe de Máquinas, posto muito gratificante de ser ocupado pelos desafios diários e equipe colaborativa”, confirma Soledade, integrante da equipe Seagems.

Patrícia Soledade, Chefe de Máquinas da Seagems (foto: arquivo pessoal)

A Seagems conta com uma Política de Diversidade, assinada pelo CEO, que corrobora a importância dada ao tema e destaca o compromisso de manter um ambiente de trabalho diverso e seguro para todas as raças, idades, etnias, gêneros, religiões e orientações sexuais.

Vale ressaltar ainda que, como resultado de tais iniciativas, a Seagems conta atualmente com 28% mulheres em cargos de liderança, e 14% de mulheres entre os executivos da empresa, além de ter registrado crescimento de mais de 10% de mulheres na companhia em dez anos.

Abaixo, destacamos as principais políticas da empresa para promoção da equidade de gênero. Programa de Formação de Praticantes, parceria mantida com a Marinha Mercante do Brasil desde julho de 2014. A ação consiste em promover a formação de Oficiais de Náutica e de Máquinas por meio do Programa de Estágio Embarcado (PREST), etapa final da graduação de Oficiais na referida instituição. Seu objetivo é oportunizar e diversificar a formação de mão-de-obra de novos profissionais marítimos brasileiros, oferecendo ainda a oportunidade do primeiro emprego no segmento. Desde o início do programa, já participaram 120 jovens entrantes no mercado de trabalho, dos quais 40% são mulheres.

Plano de Sucessão: todo empregado dispõe de uma Matriz de Treinamento para monitorar o progresso de suas habilidades profissionais. Ao atingir 100% de sua Matriz de Treinamento e estando em conformidade com outros critérios internos de mudança de nível (tempo de empresa, atestado de saúde ocupacional em dia, critérios técnicos da função e especialidades administrativas relacionadas à operação), os empregados atendem aos requisitos mínimos para se tornarem elegíveis às mudanças de nível ou promoção. A indicação de Plano de Sucessão será realizada através do formulário Avaliação de Desempenho.

Canal de Denúncias: foi criado para proporcionar aos empregados, parceiros e fornecedores um canal confidencial e seguro para comunicação de condutas que considerarem antiéticas ou contrárias à legislação vigente. As informações são recebidas por uma empresa independente e especializada, assegurando sigilo absoluto e o tratamento adequado de cada caso pela alta administração da Seagems. O relato pode ser anônimo ou identificado. O canal funciona 24 horas por dia e 7 dias por semana com atendimento eletrônico; também funciona de segunda a sexta-feira, das 10h às 20h, com analistas para atendimento pessoal.

Mulheres na Energia: Participação na publicação do livro ‘‘Mulheres na Energia’’, que destaca a contribuição de diversas mulheres do mercado de energia. A Seagems incentivou a participação da Diretora de Recursos Humanos, Glaucia Maciel, e da Comandante Izabel Borges na publicação. Ambas compartilharam sua trajetória profissional no mundo offshore, representando fonte de inspiração para um número cada vez maior de mulheres interessadas a ingressar no mercado de energia.

Pesquisa de Remuneração: com intuito de identificar a posição da empresa com relação ao mercado de óleo de gás, bem como seus competidores diretos, a empresa participa anualmente de pesquisa salarial e de benefícios. Tal prática permite que a Seagems verifique e ajuste, quando necessário, a composição do pacote de remuneração oferecida aos empregados e empregadas.

Acordo Coletivo: Renovado anualmente, o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) firmado entre Sindicato e empresa se constitui como uma ferramenta que estabelece regras e garante critérios de remuneração e benefícios adotados, com a anuência dos profissionais empregados. Independentemente da categoria profissional, a empresa, por deliberação própria, estende as benesses do acordo firmado para todas as empregadas e empregados.

Especializada em soluções práticas em engenharia submarina, a Seagems atua sobre e sob os mares, trazendo soluções às mais diversas demandas offshore da indústria de energia. Atualmente sua frota é composta por seis navios equipados com 12 veículos submarinos controlados remotamente (ROV). A empresa marca presença nas cidades do Rio de Janeiro, Rio das Ostras e Viena. É 100% brasileira e parte de uma joint venture entre duas multinacionais com importância ímpar nos seus mercados: a Sapura Energy Behard e a Paratus Energy Services Ltd.