(Foto: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília)

Samu e PMDF enfrentam desafios com trotes, mas ações têm reduzido ocorrências falsas

Brasília, 2 de junho de 2024 – Funcionando 24 horas por dia, sete dias por semana, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) do Distrito Federal recebe quase um milhão de ligações anuais pelo número 192, prestando socorro em toda a região. Em cada chamada, o atendente tem entre 30 segundos a um minuto para entender a situação e tomar decisões cruciais que podem salvar vidas. No entanto, os profissionais enfrentam um grande obstáculo: os trotes.

Os trotes atrapalham o atendimento de urgência, podendo custar vidas pelo tempo perdido em casos falsos.

Milhares de ligações falsas são feitas anualmente não apenas para o Samu, mas também para a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e outras forças de segurança. Essas ligações, além de desperdiçar recursos públicos, podem comprometer o atendimento de emergências reais, potencialmente colocando vidas em risco.

“Quando alguém realmente está em perigo, cada segundo é crucial e pode salvar uma vida”, ressalta o tenente-coronel Ricardo Kotama, chefe do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom). Ele explica que, no caso da PMDF, chamadas indevidas ou acidentais exigem que o policial tente discernir se a pessoa não está sendo vítima de um crime, como sequestro ou roubo, o que consome tempo e congestiona as linhas.
Redução de trotes

Segundo Victor Arimateia, diretor do Samu, o número de trotes tem diminuído ao longo do tempo. Em 2023, foram registradas entre 12 e 13 mil ligações falsas, enquanto em 2022 foram mais de 15 mil. “Houve um declínio significativo, mas nosso objetivo é trote zero”, afirma Arimateia. A redução é atribuída ao monitoramento interno e a iniciativas como campanhas na mídia e o projeto educativo Samuzinho.
Filtros de atendimento

O Samu possui um sistema para filtrar chamadas, convertendo cerca de 75 mil em intervenções móveis anualmente. O técnico auxiliar de regulação médica, primeiro a atender a ligação, muitas vezes identifica e redireciona chamadas não pertinentes ao Samu, como para a polícia ou os bombeiros, detectando a maioria dos trotes nesse estágio.

Apesar disso, alguns trotes ainda conseguem forjar situações de socorro, mobilizando equipes desnecessariamente e comprometendo o tempo de resposta para emergências reais. Para evitar desperdícios de recursos, o Samu trabalha em conjunto com o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), coordenando o envio de viaturas para evitar atendimentos duplicados.

A PMDF, que recebe cerca de 2 milhões de ligações por ano, enfrenta um desafio semelhante. Das 160 a 180 mil ligações mensais, aproximadamente 30 mil são trotes, chamadas acidentais ou acionamentos indevidos, sendo 10% originados por empresas de segurança particular que utilizam “botões do pânico”. “Esses acionamentos indevidos, muitas vezes causados por falhas nos equipamentos, desviam recursos que poderiam ser utilizados em emergências reais”, explica Kotama.


O Samu trabalha com um sistema que direciona o atendimento para aquele paciente que mais precisa | Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Medidas legais contra trotes

Para coibir trotes, o Decreto nº 44.427 prevê multas de até R$ 4 mil para os responsáveis por chamadas falsas que resultem no acionamento de forças de segurança. “Essa lei é um avanço significativo, proporcionando um respaldo legal para punir adequadamente quem comete esses atos”, conclui Arimateia.

As chamadas indevidas não só ocupam as linhas telefônicas, como também podem desviar viaturas e equipes de ocorrências reais, comprometendo a assistência a quem realmente necessita. A aplicação de multas busca garantir que os recursos de emergência sejam utilizados de forma eficiente e direcionados a situações verdadeiramente urgentes.