O deputado explicou que o grupo de trabalho vai discutir medidas para melhorar o atendimento a pacientes de doenças renais
Foto: Rinaldo Morelli/ Agência CLDF
Em sessão solene realizada nesta sexta-feira (28), a Câmara Legislativa do DF oficializou a criação da Frente Parlamentar da Nefrologia, que é presidida pelo deputado Thiago Manzoni (PL) e visa buscar soluções para aprimorar o atendimento a pacientes renais na rede pública do DF. O evento reuniu especialistas da área que debateram problemas que a saúde pública distrital vem enfrentando na área nefrológica e soluções para o aprimoramento do atendimento.
Manzoni ressaltou que o grupo criado vai se empenhar em buscar respostas efetivas para os problemas enfrentados pelos doentes renais, promovendo o intercâmbio com outras instituições e promovendo o aprimoramento da legislação para que o poder público possa oferecer melhor suporte ao tratamento dessas pessoas. “Só quem sabe o que os pacientes passam são eles próprios. Vamos batalhar para melhorar a vida de quem precisa do atendimento”, pontuou.
Dados
Especialistas da área trouxeram dados que ilustram o impacto das doenças renais na saúde pública. De acordo com a presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (Regional DF), Isadora Cartaxo, a doença renal crônica será a quinta maior causa de morte no mundo em 2040. No brasil, ainda segundo a especialista, 11% da população tem algum nível doença renal crônica, o que representa 22 milhões de pessoas. Além disso, levantamento aponta que o país possui 157 mil pacientes em diálise, sendo que este número cresce em média 6% a cada ano.
Cartaxo destacou que a doença renal crônica e suas condições associadas consomem 13% de toda a receita para a saúde pública do Brasil e que as principais causas da doença são hipertensão e diabetes. A médica salientou que um dos grandes desafios da área nefrológica está ligado à falta de um diagnóstico preventivo das doenças renais, o que faz com que geralmente a condição seja identificada em uma fase muito avançada.
Ela revelou que os pacientes no DF vêm enfrentando situações críticas, como a falta de vagas de diálise. Em 2023, foram identificados 78 pacientes sem vaga ambulatorial e 65 pacientes internados sem dispor do tratamento necessário para receber alta na rede pública. Além disso, segundo a médica, há frequente desabastecimento das farmácias de alto custo e filas de pacientes aguardando para a realização de cirurgia.
Por fim, Cartaxo comemorou a iniciativa de criação da frente parlamentar, afirmando que a articulação política e técnica do grupo pode auxiliar a melhorar a estrutura de atendimento no DF. “A frente parlamentar pode ajudar a mudar a realidade da nefrologia no DF”, pontuou.
Atendimento no DF
A representante da Secretaria de Saúde (SES/DF), Raquel Mesquita, elencou iniciativas que a pasta tem provido para aprimorar o atendimento aos pacientes na capital. Ela contou que há uma mudança de paradigma em curso na rede pública de saúde, em que o foco do cuidado médico passou a ser a pessoa do paciente, e não apenas sua doença.
Segundo ela, em 2023, a SES/DF estabeleceu uma nova padronização da linha de cuidado do doente renal crônico, com a definição do trajeto do usuário desde a porta de entrada na atenção primária até o transplante renal.
Mesquita contou que houve um aumento de 15% das vagas de diálise na rede pública, que hoje conta com seis centros de diálise hospitalar, 433 vagas de hemodiálise e mais de 350 vagas de diálise peritoneal, uma opção de tratamento em que o processo ocorre dentro do corpo do paciente, com auxílio de um filtro natural como substituto da função renal.
A representante da SES/DF destacou que a pasta conta com mais oito clínicas credenciadas de diálise, com 1.102 vagas para hemodiálise e 500 vagas de peritoneal, totalizando 1.535 vagas de hemodiálise e 850 de peritoneal somando-se a rede pública e a credenciada. Ela destacou ainda que está em curso a reformulação do serviço de nefrologia do Hospital de Base e o credenciamento de mais uma clínica, que vai oferecer 150 vagas adicionais, zerando a fila de pacientes de diálise. “Muitas coisas fizemos e muitas ainda serão feitas”, concluiu.
O presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, José Andrade Moura Neto, cobrou uma maior atenção do poder público para o atendimento aos pacientes ao que chamou de “crise humanitária da diálise”. Para ele, o financiamento público à nefrologia está abaixo do que seria necessário para oferecer um tratamento efetivo à população. “Precisamos sensibilizar os gestores públicos e autoridades com relação a isso” afirmou. Ele cobrou ainda maior fomento público em campanhas de prevenção às doenças renais, que podem detectadas de forma simples com exames de urina e creatinina no sangue.
Já a médica de nefrologia pediátrica Kaline Souza reclamou que as UTIs do DF com pacientes em tratamento renal não contam com especialistas pediátricos, o que tem comprometido o tratamento dos pacientes infantis. “Há crianças morrendo sem a chance de realizar uma diálise por falta de suporte e não é por falta de profissionais”, denunciou.
A reunião teve falas de pacientes que cobraram uma gestão mais humanizada na rede pública do DF. Para Manzoni, a frete parlamentar poderá discutir soluções junto aos atores envolvidos para aprimorar a gestão dos recursos públicos destinados à saúde. “Nosso mandato tem feito um esforço para fiscalizar a saúde do DF e também contribuir para mostrar soluções”, afirmou o distrital.
A sessão solene teve transmissão ao vivo pela TV Câmara Distrital e pelo YouTube da Casa.
Christopher Gama/ Agência CLDF
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