Agência Brasília*
Em homenagem ao Dia Mundial da Conscientização do Autismo, médicos do Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) compareceram a uma sessão solene, realizada no Plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). A cerimônia ocorreu na manhã desta quinta-feira (4), por iniciativa do deputado distrital Jorge Vianna, a fim de oferecer uma plataforma que garantisse a visibilidade necessária ao tema.
A solenidade foi marcada por cuidados com os autistas presentes – os aplausos foram substituídos por palmas em Libras, com os braços levantados e balançando as mãos | Fotos: Divulgação/ HCB
O grupo que representou o HCB na cerimônia, composto por médicos, psicólogos, musicoterapeutas, fonoaudiólogos e assistentes sociais, recebeu homenagens e contribuiu para mudar o perfil do tratamento do autismo. “Acredito que ainda seja muito importante conscientizarmos sobre o autismo. No dia a dia, ainda há muitas dificuldades com questões relacionadas ao preconceito”, comentou Hernane Machado, médico psiquiatra no Hospital da Criança.
Estimativa de pessoas com TEA no Brasil, de acordo com a OMS
A descrença e o descaso diante do diagnóstico não vêm, necessariamente, de pessoas distantes ou desconhecidas; segundo Machado, a própria família do paciente pode vir a perpetuar comportamentos capacitistas que são muito danosos para a criança. “Às vezes, os próprios familiares dos pacientes não acreditam na existência do TEA ou associam a origem do transtorno à problemas de educação/criação ”, complementa. Além do psiquiatra, compareceram, também, profissionais de neurologia pediátrica, musicoterapia, fonoaudiologia, enfermagem, terapia ocupacional e psicologia.
O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado no dia 2 de abril, é uma data estipulada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para difundir conhecimento sobre a condição, quebrar preconceitos e combater o capacitismo sofrido por quem lida com o distúrbio. O transtorno do espectro autista (TEA) acomete, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), em torno de 2 milhões de pessoas no Brasil, mas ainda é um tema muito desconhecido pela maior parte da população.
Médicos, psicólogos, musicoterapeutas, fonoaudiólogos e assistentes sociais do HCB receberam homenagens pelo trabalho dedicado ao autismo
A solenidade foi marcada por muito cuidado, pensando em como estabelecer um ambiente acolhedor para aqueles que receberam o diagnóstico do transtorno – os tradicionais aplausos barulhentos e estridentes, que poderiam desencadear crises para os pacientes TEA que estavam presentes, por exemplo, foram substituídas por palmas em Libras, feitas com os braços levantados e balançando as mãos.
“Muitos adultos são autistas e não sabem, porque não tiveram o diagnóstico correto”
Amadeu Alcântara, otorrinolaringologista do HCB
O deputado Jorge Vianna comentou sobre como a desinformação dificulta o diagnóstico e a qualidade de vida do paciente, além de fomentar variadas formas de preconceito. “Para além da conscientização, cabe ao poder público o dever de garantir os direitos de pessoas autistas”, observou Vianna.
Próximo ao final do evento, Amadeu Alcântara, otorrinolaringologista que descobriu seu diagnóstico de TEA durante a graduação, subiu ao palco para falar sobre sua experiência ao receber a confirmação do quadro de autismo.
“Muitos adultos são autistas e não sabem porque não tiveram diagnóstico correto, avaliação neuropsicológica ou um profissional que se debruçasse sobre eles. E essa é nossa realidade até hoje”, alerta Alcântara.
Segundo o médico, o diagnóstico precoce e o tratamento durante as fases iniciais oferecem uma maior qualidade de vida. “Boa parte das famílias de pacientes com TEA só consegue acesso a tratamentos com o laudo, e é urgente que essas pessoas não fiquem esperando por conta da neuroplasticidade, isso é, a capacidade do cérebro de moldar-se”, reitera o profissional.
*Com informações do Hospital da Criança de Brasília (HCB)
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