Símbolo da resistência dos valores de tantos trabalhadores que construíram Brasília, espaço tem o único desenho de Oscar Niemeyer fora do Plano Piloto.
Josiane Borges, da Agência Brasília | Edição: Saulo Moreno
Dizem que o famoso hino sertanejo Asa Branca, de Luiz Gonzaga, serviu de inspiração para criação de um dos espaços culturais mais importantes do Distrito Federal. Único monumento de Oscar Niemeyer fora do Plano Piloto, a Casa do Cantador é palco de repentistas de viola, declamadores e emboladores de coco, bem como dos amantes da literatura de cordel.Na entrada, a estátua do Cantador Anônimo, do escultor cearense Alberto Porfírio, representando a paixão do povo pela música, recebe os visitantes | Fotos: Arquivo Público do DF
Conhecido como Palácio da Poesia, o espaço cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF foi inaugurado em 9 de novembro de 1986, a partir da reivindicação de representantes da cultura nordestina em Ceilândia, o maior reduto de nordestinos no Distrito Federal. Assim, os cantadores, repentistas e poetas da época, que ocupavam a famosa Caixa d’Água e a Feira Central de Ceilândia, ganharam um lugar para a arte.A Casa do Cantador foi inaugurada em 9 de novembro de 1986, a partir da reivindicação de representantes da cultura nordestina em Ceilândia, o maior reduto de nordestinos no Distrito Federal.
Palco de grandes manifestações, a exemplo dos festivais Nacional e Regional de Cantadores Repentistas, os encontros dos forrozeiros do DF, as feiras de arte e cultura da Ceilândia, entre outros, receberam artistas renomados como Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Xangai, Dona Lia de Itamaracá, Irmãs Galvão, Zé Mulato e Cassiano, Jackson Antunes e Zeca Baleiro, além dos mais importantes repentistas do nordeste brasileiro.
“Me lembro que, nos anos 90, morava no Nordeste e chegava a passar um mês na Casa do Cantador. Na época, agendávamos as cantorias, íamos às rádios para divulgar e os nordestinos iam nos assistir. Ficávamos hospedados lá mesmo; era, além de espaço cultural, um local de apoio com nove quartos que serviam de alojamento para os repentistas e artistas da época”, relembra Manoel de Sousa Rodrigues, radialista, poeta e cordelista que, mais conhecido como Zé do Cerrado, hoje é o gerente da Casa do Cantador.
Os cômodos eram utilizados por repentistas que passavam por Brasília em visitas ou temporadas de trabalho. Em vez de pagar hotéis na cidade, os músicos utilizavam os espaços da Casa.
Hoje, o mesmo estabelecimento que dá espaço ao repente, ao forró e à literatura de cordel recebe também eventos de arte urbana, como o encontro de jovens que se unem para fazer batalhas de rimas
Espaço de todos
Logo na entrada, quem recebe os visitantes é a estátua do Cantador Anônimo, do escultor cearense Alberto Porfírio, representando a paixão do povo pela música. Uma cordelteca de João Melchíades Ferreira, dotada de acervo de 1.200 cordéis e livros, está disponível para a comunidade, assim como salas multiúso e anfiteatro.
“A Casa do Cantador reforça a pluralidade cultural e é um ponto de referência de arte em Ceilândia. A cidade tem um movimento artístico forte, e a nossa missão enquanto secretaria é promover a democratização dos espaços. Hoje, a casa é um espaço que agrega todos os movimentos, vem nessa pegada de descentralização da cultura e faz com que a arte chegue às outras regiões administrativas”, destaca a secretária adjunta de Cultura e Economia Criativa, Patrícia Paraguassu.
Atualmente, o mesmo estabelecimento que dá espaço ao repente, ao forró e à literatura de cordel recebe também eventos de arte urbana, de rap, como o encontro de jovens que se unem para fazer batalhas de rimas na casa. Além das apresentações musicais, a instituição oferece cursos gratuitos de música para jovens.Patrícia Assis, que hoje trabalha com o Projeto Arte Jovem, relembra a infância quando visualiza o espaço como um local mágico | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília
Para Zé do Cerrado, a casa tem uma alma caipira e repentista, mas hoje comporta todos os segmentos. “Abrigamos o Projeto Arte Jovem, que movimenta a casa nas segundas, quartas e sextas. No primeiro dia, também se reúne o Coral para a Melhor Idade e são ministradas as aulas de ginástica. Os recursos do FAC [Fundo de Apoio à Cultura] movimentam nosso espaço, e recebemos desde orquestra, rap, ao sertanejo e pagode. Estamos abertos para todos os tipos de atividades”, completa o gerente.
A moradora de Ceilândia Patrícia Assis, 48 anos, que hoje trabalha com o Projeto Arte Jovem, relembra a infância quando visualiza o espaço como um local mágico. “Quando morava em Ceilândia, eu tinha cinco anos, e meus pais trabalhavam aqui na Feira da Guariroba [que funciona ao lado], então eu via tudo acontecer. Cresci frequentando as festas juninas e os eventos de repentistas. A casa faz parte da minha infância; meu sonho era percorrer correndo essas estruturas aqui”, relata. Patrícia se refere aos arcos que compõem a fachada do espaço cultural.
Segundo ela, em uma de suas viagens para o Nordeste, quando informou que morava em Brasília a um grupo de cantadores repentistas, logo associaram a capital federal à Casa do Cantador. “É uma referência de cultura; as pessoas lembram do espaço e, para nós ceilandenses, é um orgulho muito grande, é nossa alegria”, completa, orgulhosa.
Como ter acesso
Localizada na QNN 32, a Casa do Cantador tem entrada gratuita e horário de visitação de segunda a sexta-feira das 9h às 18h (nos dias de eventos noturnos, abre conforme horário da programação). Grupos escolares e turistas têm à disposição visitas guiadas.
A biblioteca com um vasto acervo de literatura de cordel, possuindo também clássicos da literatura brasileira, em especial de autores nordestinos, e é aberta ao público no mesmo horário de funcionamento do espaço.
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