De 02 a 11 de dezembro, o 1º Festival de Cinema e Cultura Indígena leva ao Cine Brasília uma programação gratuita de mostras de filmes, masterclasses, apresentações culturais e rodas de conversa com grandes nomes do audiovisual.
crédito: Takuma Kuikuro/Divulgação
“Estou muito feliz. Somos os primeiros povos do Brasil e estamos vivos. Estamos contando nossas histórias. E feliz também por realizar o festival em Brasília, no Cine Brasília, essa casa de cinema tão importante para todo o Brasil”, comenta Takumã Kuikuro, idealizador do 1º Festival de Cinema e Cultura Indígena (FeCCI), focado na produção audiovisual de cineastas, coletivos e realizadores de origem indígena, promovendo, fortalecendo e difundindo as variadas culturas e cinemas dos mais de 305 povos indígenas do país.
O festival contribui para a difusão tanto das obras cinematográficas, como das cosmovisões dos povos indígenas do Brasil, tornando-se, também, um panorama das mais recentes realizações cinematográficas que contribuem para o desenvolvimento da produção audiovisual indígena no Brasil. “O festival é a realização de um sonho meu. Um sonho que começou há dez anos atrás. Mas esse festival é de todos os povos indígenas. Conseguimos trazer realizadores indígenas e coletivos de jovens para cá, para conversas e encontros com o público”, comenta Takumã. “Eu espero que a gente faça uma retomada do protagonismo das narrativas indígenas. Também estamos promovendo encontros com cineastas não-indígenas, mas que são aliados e apoiadores do nosso cinema. Espero que seja uma importante troca de conhecimento”,continuou.
De 02 a 11 de dezembro, o festival chega ao Cine Brasília, levando filmes das cinco regiões do país, realizados por mais de 30 cineastas e coletivos indígenas. A programação contará com uma mostra competitiva composta por 10 filmes, uma mostra paralela com 20 filmes e uma mostra de convidados com 10 filmes. Os filmes foram selecionados por uma curadoria de mulheres indígenas com uma vasta experiência no audiovisual, são elas: Julie Dorrico, Kujaesage Kaiabi, Olinda Tupinambá, Priscila Tapajowara e Renata Aratykyra.
Os 10 filmes selecionados para a mostra competitiva são: “Ãjãí: o jogo de cabeça dos Myky e Manoki”; “Amary Otomo Ogopitsa: O Resgate da Memória Amary”; “A Tradicional Família Brasileira Katu”; “Ga vī: a voz do barro”; “Levante Pela Terra”; “Nossos Espíritos Seguem Chegando – Nhe’ẽ kuery jogueru Teri”; “Paola”; “Somos raízes”; “Um Só Ser – O Grande Encontro” e “Xixiá – mestre dos cânticos Fulni-ô”.
De acordo com Takumã, o cinema indígena cresce de forma expressiva. Mas é preciso mais espaços para mostrar essas obras para a sociedade, para indígenas e não-indígenas. “O festival nasce desse desejo, de que mais pessoas possam ter acesso, e de forma gratuita, a obras de realizadores indígenas e de temática indígena”, conta. “Penso sempre nas crianças que sonham em segurar uma câmera. Eu já fui essa criança um dia. Lembro quando Vincent Carelli chegou na aldeia com o projeto Vídeo nas Aldeias. Quando o conheci, vi o que eu queria da minha vida: fazer cinema. Sei que hoje muitos parentes querem fazer o mesmo e meu desejo é que possam chegar, possam produzir e mostrar o nosso olhar sobre nossa cultura”, compartilhou.
Com o propósito de incentivar a produção cinematográfica indígena e contribuir para a visibilidade e o reconhecimento de profissionais do audiovisual, os selecionados para a mostra competitiva concorrerão à Premiação Oficial do FeCCI 2022 nas categorias: Melhor Filme pelo Júri Especializado e Melhor Filme pelo Júri Popular. E, ainda, concorrerão ao Prêmio Instituto Alok nas categorias: Melhor Roteiro, Melhor Direção e Melhor Fotografia. O júri especializado é composto pelos cineastas Graciela Guarani, Edgar Kanayakõ Xakriabá e Divino Tserewahú. “Alguns questionam por que existir uma mostra competitiva, mas ela é importante para premiar e assim estimular os realizadores a investirem em outras produções”, salienta o idealizador do evento.
O Festival também teve outras etapas, já realizadas esse ano: a Mostra no Território do Xingu, onde mais de 500 pessoas participaram como público, onde foi construído a primeira Casa de Cinema do Xingu. Com isso, o sonho começou a não ser só dele, mas de todos que participaram da produção desse projeto. “Também fizemos um laboratório de filmes e conseguimos realizar três curta-metragens de jovens realizadores indígenas. Eu fico emocionado com tudo, porque não foi fácil, mas tudo começou a acontecer, temos que valorizar a produção das mulheres no cinema, temos que valorizar a produção dos indígenas no cinema, assim como todos”, pontuou Takumã.
Além de toda a programação de filmes, o festival contará com masterclasses, uma experiência imersiva em VR do filme “Amazônia Viva” de Estevão Ciavatta, com a cacica Raquel Tupinambá, e rodas de conversas (Talks) com diretores, cineastas e parceiros que estão aliados com a produção indígena, como Fernando Meirelles, Luiz Bolognesi, Aurélio Michiles e Vicent Carelli, além da ativista Txai Suruí, produtora-executiva do filme “O Território”, também presente no festival. Haverá ainda a exposição de uma obra de Aislan Pankararu, artista criador da identidade visual do FeCCI.
1ª Fase – Atividades anteriores
As atividades do festival já começaram no segundo semestre de 2022. Em agosto, foi realizado o FeCCI Lab, um laboratório de projetos audiovisuais. Nele, foram selecionados três curta-metragens: ‘Afluências’, dirigido por Iasmin Soares, ‘Terra Sem Pecado – Transversal’, dirigido por Marcelo Cuhexê Krahô e ‘Orê Payayá’, dirigido por Edilene Payayá, Sarah Goes da Silva e Alejandro Zywica. Em outubro, os realizadores participaram de quatro dias de mentoria em Brasília, com representantes da Associação Cultural de Realizadores Indígenas (ASCURI), para finalizar seus curtas, os quais serão exibidos durante o festival.
Além disso, em 17 e 18 de setembro, o FeCCI realizou a Mostra Xingu – a primeira mostra de filmes do Alto Xingu, na aldeia Ipatse dos Kuikuro. A Mostra contou com um público de 400 pessoas, dos povos Kuikuro, Kalapalo e Wauja. Além da exibição de filmes, foi construída uma Casa de Cinema permanente e celebrou-se diversas festas e rituais tradicionais xinguanos, como a Festa Duhe (Tawarawana – Festa dos Peixes), a Festa Hugagü (Festa do Pequi), a Festa Yamurikumã (Festa das Mulheres) e o Ritual Takuaga (Ritual da Takuara).
Parceiros
A primeira edição do Festival de Cinema e Cultura Indígena (FeCCI) é realizada com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF), da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (SECEC-DF). O FeCCI é realizado pela produtora brasiliense A Terrestre. O evento também conta com o apoio de Mídia Índia, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Instituto Alok, O2 Filmes, Bidou Pictures Brasil, Associação Cultural de Realizadores Indígenas (ASCURI), Instituto Família do Alto Xingu (Ifax), Gullane Entretenimento, Pindorama Filmes, Paradiso Multiplica, Prefeitura de Querência (MT) e Secretaria de Cultura do Mato Grosso.
Serviço
1º Festival de Cinema e Cultura Indígena (FeCCI)
Fonte: Jornal de Brasília
Quando: De 02 a 11 de dezembro Onde: Cine Brasília – localizado na EQS 106/107 (Asa Sul)
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