O projeto Mala do Livro atende atualmente cerca de 60 mil usuários, de crianças a adultos, nas 33 regiões administrativas.
Lúcio Flávio, da Agência Brasília I Edição: Débora Cronemberger
Quase 400 agentes literários estão espalhados pelas 33 regiões administrativas
Por muito tempo, foi uma fábrica de sonhos e fantasia no meio da sala de estar de sua casa. Era ali que, vez ou outra, dona Ana, uma diarista do Riacho Fundo II, na condição de agente literária voluntária, arrastava sofás e outros móveis para transformar o local em um espaço de contação de histórias para crianças carentes da região. Tudo graças ao programa Mala do Livro, um dos homenageados da edição deste ano da 36ª edição da Feira do Livro de Brasília (FeLiB).
“Logo ela expandiria esse ambiente de leitura para uma varanda com muretas, onde toda a vizinhança participava de rodas animadas”, lembra Maria José Lira Vieira, gerente da iniciativa, que contou essa história durante uma sessão de bate-papo nesta quarta-feira (22). “São resultados como esse, que nasceram da Mala do Livro, que nos engrandecem”, disse, emocionada.O programa Mala do Livro foi homenageado pela 36ª edição da Feira do Livro de Brasília | Fotos: Joel Rodrigues/Agência Brasília
Idealizada pela bibliotecária Neusa Dourado, a ação, coordenada pela Biblioteca Nacional de Brasília (BNB), completa 32 anos em outubro deste ano. O primeiro núcleo de atendimento foi em uma comunidade de Samambaia, em 1990. A ideia era simples, mas inovadora: ofertar coleções de livros para locais do DF que ficavam distantes de bibliotecas públicas por meio de uma pequena caixa-estante, espécie de minibiblioteca que conta com cerca de 200 títulos, entre livros infantis e de gêneros diversos, como romances e biografias.
Hoje são mais de 350 malas que atendem cerca de 60 mil usuários, de crianças a adultos. Só de agentes literários espalhados pelas 33 regiões administrativas, são quase 400. “São pessoas das comunidades que ajudam a levar livro, leitura e literatura para esses locais distantes. Eles são os nossos anjos, nossas ‘donas bentas’”, revela a professora Maria José, referindo-se à clássica personagem de Monteiro Lobato. “Tem Mala do Livro que se tornou biblioteca comunitária”.
“Sempre gostei de ler, e os agentes da leitura têm essa relação próxima com os livros; é mais do que natural disseminar essa prática dentro do seu meio social”, diz Edson Cavalcante
Morador do Setor Lúcio Costa, no Guará, Edson Cavalcante de Araújo, 59 anos, desde 2006 é agente literário, uma tarefa voluntária que exerce com paixão e dedicação. “Sempre gostei de ler, e os agentes da leitura têm essa relação próxima com os livros; é mais do que natural disseminar essa prática dentro do seu meio social, de convivência”, explica. “Comecei como agente da leitura, incentivado pela professora Maria José. Fui fazer contação de história e, de tanto contar histórias dos outros, um dia comecei a contar a minha história”.
Projeto inclusivo e grande incentivador da prática da leitura, a Mala do Livro, reconhecido no Brasil e no exterior, hoje também atende variados espaços institucionais, sendo premiado por entidades como a Fundação Getúlio Vargas (FGV). “A missão desse projeto é levar o livro e a literatura para áreas onde a prática da leitura não é acessível, tanto pela ausência de bibliotecas quanto pela formação de leitores”, reforça o subsecretário do Patrimônio Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), Aquiles Brayner.
Quem deseja ser agente literário deve fazer um cadastro enviando a solicitação para o e-mail do programa maladolivro@cultura.df.gov.br ou ligar para (61) 3325-2607. Além das compras efetuadas pela Secec, grande parte dos livros que fazem parte do acervo do Mala do Livro vem de doações.
“A pessoa se manifestando para ser agente literário, a gente vê qual a disponibilidade de espaço e tempo para fazer o atendimento em sua comunidade ou vizinhança”, explica Maria José. “Sobre a doação, hoje mesmo, aqui na FeLiB, fui procurada por três editoras interessadas em fazer doações. Quem quiser fazer doação é só nos procurar; somos gratos à sociedade, que é muito bondosa.”
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