Secretária de Educação fala sobre as obras realizadas no âmbito das escolas, que são prioridades para o GDF.
À frente de uma rede composta por 430 mil estudantes e 27 mil professores, a secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, comanda a nova configuração da pasta com contratações de professores e de funcionários administrativos. Foram autorizadas 812 vagas para chamamento imediato – com o cadastro reserva, são 3.334 vagas.
Na estrutura das unidades da rede pública de ensino estão sendo investidos mais de R$ 133 milhões na construção e em reformas de unidades. Entre as 21 obras em andamento, comenta a secretária, o Centro de Ensino Infantil (CEI) 10 de Taguatinga foi entregue na última quarta-feira (23) pelo governador Ibaneis Rocha.
Em entrevista à Agência Brasília, a titular da Secretaria de Educação também falou sobre a violência nas escolas. De acordo com ela, está sendo elaborado um plano de reforço de segurança.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.Foto: Lúcio Bernardo Jr/Agência Brasília
A Secretaria de Educação está se preparando para realizar concurso, ainda este ano, visando à admissão de professores?
Nós zeramos o banco de professores que estavam na lista de espera para serem chamados e agora estamos solicitando às empresas interessadas em fazer o concurso para que apresentem suas propostas. O certame deverá ser realizado e homologado até o dia 30 de junho.
O concurso é para quantas vagas?
Foram autorizadas 812 vagas para chamamento imediato, mas, contando com o cadastro reserva, no total são 3.334 vagas. A área administrativa também será contemplada. Precisamos suprir as vagas deixadas pelos servidores aposentados.
Uma reivindicação antiga dos docentes, o aumento na gratificação dos diretores finalmente foi atendida pelo Governo do Distrito Federal. Esse gesto serve como estímulo ao trabalho desses gestores?
“A escola não é uma via apenas de aprendizagem, mas também de socialização. Ali a criança aprende a lidar com frustrações, aprende a dividir, aprende que existem limites, a cumprir ordens e a seguir rotinas”
Desde 2014 a gratificação não era reajustada. O processo inflacionário destruiu os rendimentos dos trabalhadores da educação. A gratificação foi um pedido feito ainda no governo Agnelo, mas não foi atendido. Depois veio Rollemberg, e também não houve reajuste. O governador Ibaneis honrou o compromisso assumido, sensibilizado pelo trabalho de excelência feito pelos gestores, principalmente nesse período de pandemia. Esses profissionais foram o elo entre a escola e os estudantes durante o ensino remoto. Muitas vezes, para se tornarem coordenadores, os professores precisavam abrir mão de outras gratificações de valores acima da de gestor. O reajuste funciona como um estímulo para que o profissional assuma um trabalho que é bem pesado. Para eles, o reajuste foi linear, de R$ 250 reais. O trabalho é importante da base ao ensino médio. Por isso a gratificação tem que ser linear. Também foi criada a figura do coordenador escolar, que é quem coordena os demais. Para esses foi dada uma gratificação de R$ 300 reais.
A Secretaria de Educação iniciou, neste mês, um diagnóstico da rede pública de ensino. Qual o objetivo?
Queremos conhecer os prejuízos causados pela pandemia aos alunos e também aos professores.
E já existe uma conclusão?
Estamos finalizando. Mas, diante do cenário nacional, a situação do Distrito Federal não será diferente. O ensino remoto trouxe muitos prejuízos em todas as áreas. A violência é um dos reflexos do ensino remoto. A escola não é uma via apenas de aprendizagem, mas também de socialização. Ali a criança aprende a lidar com frustrações, aprende a dividir, aprende que existem limites, a cumprir ordens e a seguir rotinas. Tudo isso a escola estabelece de forma muito pontual. Imagine uma criança que não tinha aula presencial… O aluno recebia um vídeo e assistia quando queria. Com isso, ele perdeu toda a referência de horário, de tudo que a escola traz. Hoje, temos uma criança que volta à escola para restabelecer o que foi perdido.
O professor também está reaprendendo?
Sim. O professor também está. É um aprendizado para a rede como um todo. Todos nós estamos reaprendendo. Cada professor estava isolado em sua casa, mantendo contato com seu coordenador pedagógico, com o diretor da escola e com sua turma. Não tinha a troca que normalmente existe. A coordenação acontecia pelo Meeting [canal de reuniões virtuais]. Estamos nos acostumando a trabalhar juntos novamente.
Qual o nível foi o mais prejudicado, educação básica ou ensino médio?
Foi ruim para todos. Quando tivermos os dados à disposição, poderemos fazer um estudo a respeito do ensino a distância, saber em que parte ele funcionou melhor e onde não funcionou. Mas imagino que as maiores perdas tenham sido nos anos iniciais. Pense em uma criança que chega para ser alfabetizada, e aí vem a pandemia e ela fica quase dois anos tendo aulas remotas. Outro caso é o de uma criança que estava no terceiro ano, ainda não alfabetizada. Com a pandemia, ela não aprendeu e ainda perdeu o que sabia. Assim, existe aquele que perdeu o que aprendeu e o que não aprendeu nada.
Como está sendo feita essa avaliação?
A avaliação acontece em toda a rede, para estudantes a partir do segundo ano. Consiste em um teste escrito, de língua portuguesa e de matemática, inclusive em Braille, com intérprete, e com Libras. A Educação de Jovens Adultos [EJA] também foi avaliada. O aluno sabendo ler, tendo o raciocínio lógico desenvolvido, consegue deslanchar em todas as matérias; o céu é o limite. Precisamos saber como ele está.
O que será feito com o resultado do diagnóstico?
“Nós queremos chegar a um nível de conhecimento individual do aluno, porque o aluno não é um conjunto, ele é um indivíduo”
Não vamos voltar ninguém no tempo por não ter aprendido. A partir do resultado, vamos entrar com as intervenções pedagógicas, recompor as aprendizagens perdidas. Por exemplo: uma pessoa que no terceiro ano do ensino médio não esteja alfabetizada não será penalizada por uma circunstância alheia à sua vontade. Se fizermos o aluno voltar para uma série anterior, estaremos aumentando a distorção idade/série. A área pedagógica está fazendo um planejamento que inclui aulas em TV para o aluno assistir no contraturno, projetos pedagógicos interessantes, entre outras coisas.
Como fazer para tornar todas as escolas da rede escolas-modelo?
Cada escola tem autonomia para montar sua política pedagógica. Quando vemos casos de sucesso, buscamos conhecer para levar às demais. Toda vez que uma escola precisa de projeto pedagógico na área da matemática ou de alfabetização, ela busca. Esses casos de sucesso são uma junção de vários fatores, como um corpo docente comprometido. O resultado deixa todos motivados. Por isso é importante avaliar as escolas, não apenas nesse diagnóstico que está acontecendo agora – a avaliação deve ser feita no mínimo bimestralmente. O ideal seria uma avaliação a cada mês. A iniciativa serve para fazer correções em falhas e permitir as intervenções pedagógicas, tão necessárias. É importante também para que se conheça a formação do profissional. Nós queremos chegar a um nível de conhecimento individual do aluno, porque o aluno não é um conjunto, ele é um indivíduo. A avaliação constante faz com que se chegue ao indivíduo.
Que avaliação a senhora faz da vacinação nas escolas?
Começou com os alunos acima de 12 anos e do ensino médio. Foi um sucesso. Entre os alunos de 5 a 11 anos, temos quase 55% de estudantes vacinados. A escola é um bom caminho para vacinar os estudantes e também seus familiares. Na Estrutural, ficamos o dia inteiro, e foi possível vacinar e conversar com os pais. Lá vacinamos mais de 500 crianças e pais. No Guará, nenhuma UBS vacina nos finais de semana, e pais que trabalham aos sábados pela manhã puderam levar os filhos à tarde. Todos os pais disseram que preferem vacinar os filhos aos sábados porque não têm tempo durante a semana. Neste final de semana estaremos no Centro de Ensino Médio do Guará e depois vamos para Sobradinho. As próximas localidades serão definidas pela Secretaria de Saúde. A escola é um ambiente lúdico, extramuros da saúde. No dia da vacinação, tinha pula-pula e balões. Mas é preciso deixar claro que não existe obrigatoriedade ou passaporte.
E os casos recorrentes de violência nas escolas? O que fazer para resolver?
Sempre houve a cultura da paz na rede, mas a violência sempre existiu. Agora percebemos um aumento da violência com a volta do ensino presencial. Concluímos que crianças e adolescentes ficaram muito segregados em suas casas durante a pandemia. Vamos fazer um trabalho em parceria com outras secretarias. Esta é uma questão da sociedade. É preciso envolver pais, professores, a Secretaria de Saúde – que tem programa de saúde mental –, a Secretaria da Juventude, que dispõe de programas como bate-papos, e, finalmente, a Secretaria de Segurança, parceira de primeira hora. Estamos trabalhando juntos em um plano que prevê reforço da segurança no combate a essa violência toda. Queremos oferecer aos estudantes uma rede de proteção.
E as obras? Escolas estão sendo construídas e reformadas. Isso permitirá um aumento de quantas salas de aula e o ingresso de quantos novos alunos na rede?
“A criança deve estar na escola para aprender. Se conseguirmos que a criança retome o seu papel principal, que é aprender a fazer com que a rede tenha essa compreensão e olhe para o aluno, estará cumprido o papel fundamental”
A previsão é abrir 283 novas salas de aula e atender 17.320 alunos. As obras estão em quase todo o DF. Algumas áreas que cresceram muito, como Paranoá, São Sebastião, Sol Nascente/Pôr do Sol e Recanto das Emas, são as prioridades na construção de escolas. Queremos ampliar inclusive as escolas em tempo integral. Essas unidades permitem que os alunos tenham acesso, em um único local, a aulas de língua estrangeira e esportes, por exemplo. Abre-se o leque para manter o aluno na escola com outras atividades que não apenas as da grade curricular. O estudante amplia suas possibilidades na escola. É vantagem para todos.
Qual o legado que a senhora quer deixar para a educação do Distrito Federal?
Voltar para o que é mais importante. A criança deve estar na escola para aprender. Ali é um espaço onde ela se socializa, aprende, percebe o outro, a sociedade e a lidar com frustrações. Se conseguirmos que a criança retome o seu papel principal, que é aprender a fazer com que a rede tenha essa compreensão e olhe para o aluno, estará cumprido o papel fundamental. Não existe professor, não existe merendeira, não existe diretor, nem supervisor ou coordenador, nada, sem o estudante. Se eu sair da secretaria deixando um resgate e a compreensão de voltar todo nosso foco para o estudante, eu saio daqui realizada.
Catarina Lima, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto
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