Lúcio Flávio, da Agência Brasília | Edição: Renata Lu
Já são quase 300 mil espectadores no cinema. Novo filme do brasiliense René Sampaio a se enveredar pelo universo do bardo Renato Russo, “Eduardo & Mônica”, em cartaz nos cinemas, vem conquistando legiões de corações pelo país.
No Distrito Federal, a história do “boyzinho que tentava impressionar” e “a menina com tinta no cabelo” ganha significado especial, afetivo até. Bate forte não apenas na alma dos moradores da capital, mas de quem contemplou um estado de espírito que nasceu nos anos 80 ao som de guitarras elétricas, festas legais e lugares marcantes da cidade projetados nas telonas e que fazem parte da vida de milhares de pessoas.
A história do filme ganha significado especial, afetivo até, não só para os moradores da capital, mas para quem contemplou um estado de espírito que nasceu nos anos 80 | Divulgação/Gávea Filmes
Alguns desses espaços são emblemáticos, como o monumental Parque da Cidade. Outros, meramente representativos, a exemplo do Congresso Nacional. Não por acaso, cinco outros locais da cidade fazem parte do projeto “Rota do Rock”, iniciativa da Secretaria de Turismo do DF que tem como meta redefinir esse período cultural tão importante para a cidade e marcado por vivências e experiências únicas. É o que explica a secretária Vanessa Mendonça.
“Turismo é experiência e o turismo cinematográfico tem uma força tremenda. Um filme tem a capacidade de atrair o interesse das pessoas que ainda não conhecem uma cidade e querer visitar os locais”, comenta a titular da pasta, que viu e gostou de “Eduardo & Mônica”. “Brasília está sendo vista de forma maravilhosa, como uma cidade cheia de vida e que tem uma potência criativa enorme, além de paisagens e monumentos incríveis”, avalia a gestora.
Parque da Cidade: local onde os protagonistas do filme escreveram parte de sua história como casal | Foto: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília
“O filme não poderia existir em outro lugar que não fosse Brasília, ou pelo menos não com essa força e identidade que temos. Buscamos locações na cidade que pudessem traduzir esse sentimento”, René Sampaio, cineasta
Rock Brasília
Criado em maio de 2021, o projeto “Rota do Rock” mapeou mais de 40 destinos turísticos na cidade que têm relação direta com o estilo musical que consagrou bandas como Plebe Rude, Capital e Legião Urbana. Quinze desses espaços contam com placas informativas e um QR Code, código que permite ao turista fazer uma viagem virtual por esses locais.
No filme “Eduardo & Mônica”, além do Parque da Cidade, claro, alguns dos roteiros traçados pelo GDF se fazem presentes com cenas rodadas na Universidade de Brasília (UnB), na entrequadra 110/111 Sul – endereço da antiga lanchonete Food’s, ponto de encontro dos punks e local de shows de bandas da cidade -, além do Bar Beirute, bastante frequentando por Renato Russo e point tradicional para moradores e visitantes.
Cravado no coração de Brasília com sua forma piramidal, o Teatro Nacional, que em breve será reformado pelo GDF, é outro ponto da cidade que faz parte da “Rota do Rock” da Secretaria de Turismo do DF e serve de cenário para os jovens que se “encontraram sem querer e conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer”. Ali, no início dos anos 80, os integrantes da Legião Urbana usaram os blocos da fachada idealizados pelo artista plástico Athos Bulcão para histórico ensaio fotográfico.
“O Rock Brasília, para a minha geração, foi um grito de liberdade, mostrava para toda uma galera, entre 13 e 20 anos, que era possível ter uma voz brasiliense, dizer coisas da cidade que ecoassem no Brasil inteiro”, comenta o diretor de “Eduardo & Mônica”, René Sampaio, elogiando o projeto “Rota do Rock”, do GDF. “Mapear esses pontos de interesse turístico significam muito para quem viveu esses momentos na capital do país”, destaca.
Algumas locações escolhidas para o longa-metragem transpõem os limites do Plano Piloto. É o caso da Rota do Cavalo, situada no Núcleo Rural Sobradinho | Foto: Adriano Teixeira/Agência Brasília
Cidade cinematográfica
Além da exuberância arquitetônica modernista local, o lado bucólico de Brasília, sintetizada no conceito de cidade-parque do urbanista Lúcio Costa, com suas áreas verdes espalhadas por quadras, entrequadras e canteiros a perder de vista, também são atrativos turísticos explorados no filme. Para o cineasta René Sampaio, elementos espaciais essenciais que ajudaram a criar uma ideia de pertencimento e identidade que perpassa toda a trama.
“O filme não poderia existir em outro lugar que não fosse Brasília, ou pelo menos não com essa força e identidade que temos. Buscamos locações na cidade que pudessem traduzir esse sentimento”, conta o cineasta brasiliense. “Brasília é um dos melhores lugares do mundo para filmar, consegue ser moderna, contemporânea e de época ao mesmo tempo”, diz.
Eixos Monumental e rodoviário, Asa Norte, os prédios da Colina, famoso complexo de moradia dos professores da UnB, o Buraco do Tatu – ponto seminal do nascimento de Brasília, onde foram traçados os dois eixos que dariam sentido às vias da nova capital -, a própria Rodoviária do Plano Piloto, a piscina do Defer, localizada próximo ao autódromo, além da charmosa Superquadra da 308 Sul, que fica encostada à Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, são outros lugares emblemáticos da cidade que serviram de locação para “Eduardo & Mônica”. Tudo transposto para as telas com muito afeto e ternura e com a cara dos anos 80.
“Sou brasiliense e apaixonado pela cidade. Sempre quis escrever um filme no qual Brasília fosse uma espécie de personagem, não apenas a locação”, conta o roteirista Matheus Souza. “Minha maior preocupação era traduzir, nas páginas do roteiro, meu próprio afeto pela cidade onde nasci e onde minha família mora até hoje”, admite.
Algumas locações escolhidas para o longa-metragem, estrelado pela dupla Gabriel Leone e Alice Braga, transpõem os limites do Plano Piloto. É o caso da Rota do Cavalo, situada no Núcleo Rural Sobradinho, as plantações do PAD-DF, a 60 km de Brasília, além das cachoeiras da Chapada dos Veadeiros. Cenários que compõem alguns dos roteiros da Rota do Cerrado da Setur-DF.
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