Apesar do grande número de visitantes, o evento deixava de abrigar um público específico: as pessoas com hipersensibilidade auditiva.
Família da advogada Viviane Benon, que é idealizadora do Instituto Nãna | Fotos: Joel Rodrigues/Agência Brasília
Com mais de 50 mil visitas por dia, a decoração do projeto Brasília Iluminada chama atenção por todo o Distrito Federal. Apesar do grande número de visitantes, o evento deixava de abrigar um público específico: as pessoas com hipersensibilidade auditiva, porque a estrutura contemplativa na Esplanada dos Ministérios é dotada de som musical.
Em pessoas com autismo é comum que sons habituais gerem desconforto. Por isso, alguns pais e mães de crianças com o espectro estavam evitando levar os filhos para visitar o evento gratuito e disponível desde 22 de dezembro. “Viemos algumas vezes de carro, mas não tinha como parar para entrar, por causa do barulho”, explica Verusca Medeiros, mãe de João Pedro Araújo, jovem com autismo moderado. “O João Pedro tem problemas com música alta. É um gatilho para convulsões e comportamentos, como o choro”, completa.
Nesta segunda-feira (10), quando o evento preparou um dia especial e acessível, em que o som ambiente ficou desligado das 18h às 23h nos quadrantes localizados na Esplanada dos Ministérios, pela primeira vez, mãe e filho puderam descer do carro. João Pedro estava encantado com o que via. “Estou achando perfeito. Nem imaginava que ia ser assim. Estou gostando de tudo, de estar com os meus amigos”, afirma o garoto.
Ideia
A iniciativa surgiu do pedido da advogada Viviane Benon, que é idealizadora do Instituto Nãna, um centro de entretenimento para crianças e adolescentes especiais. Ao visitar o Brasília Iluminada, ela percebeu que só poderia levar a enteada Ana Luiza Sampaio, a Nãna, de 14 anos, se o evento retirasse o som ambiente. “Fiquei muito apaixonada pelo evento. Resolvi pedir e explicar a nossa situação à produção. Eu queria ter a oportunidade de trazer a Nãna para poder desfrutar e vivenciar essa beleza. Eu sabia que não seria uma oportunidade só para ela, mas para outras crianças, adolescentes e idosos”, conta.
Viviane entrou em contato com os responsáveis pelo evento e solicitou a retirada do som por um dia, o que foi acatado pela produção. “A Viviane acionou uma pessoa da equipe de atendimento, que passou para a coordenação, e resolvemos fazer essa ação. Buscamos entender o que precisávamos para acolher e atender melhor esse público. Assim, fizemos um dia totalmente silencioso em que todas as estruturas da Esplanada estão sem sonorização e áudio”, revela Patrícia Mazoni, coordenadora de sustentabilidade do Brasília Iluminada.
Quem também aproveitou o dia “sem barulho” foi o pequeno Yan Ko, de apenas 3 anos, que tem autismo moderado. A mãe Rebeca Mello estava adiando o momento de levá-lo até a estrutura.
“Eu já tinha passado de carro, mas até então era só um projeto trazê-lo aqui, porque ainda estava muito cheio e tinha o som. Quando a Viviane conseguiu essa oportunidade, eu o trouxe na hora”, comenta. E Yan aproveitou. “Ele gostou principalmente das bolhas (feitas de fumaça) e dos bichinhos que se movem”, lembra.
Evento
O Brasília Iluminada ocupa 415.770 m² de área enfeitada da Esplanada dos Ministérios, na altura do Congresso Nacional, até o Eixo Monumental, na Igreja Rainha da Paz. São, ao todo, 11 eixos que celebram os símbolos de esperança e renovação. Além de ser um evento contemplativo, conta com ações sociais e músicas. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos. O evento segue para visitação até 20 de janeiro.
*Com informações de Adriana Iziel/Agência Brasília
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