Segundo a deputada Júlia Lucy, as mulheres ocupam apenas 34% dos cargos de liderança sênior das empresas e ganham em média 23% a menos do que os homens
Foto: Reprodução/TV Web CLDF

Audiência pública remota, promovida pela Procuradoria Especial da Mulher (PEM) da Câmara Legislativa nesta quinta-feira (11), abordou o impacto da liderança feminina no desenvolvimento social, artístico, cultural e econômico, com atenção ao cenário da pandemia. A deputada Júlia Lucy (Novo), procuradora da Mulher da CLDF, destacou que a falta de oportunidades, os rótulos de preconceito, a dupla jornada e a baixa representatividade atrapalham a ascensão feminina. De acordo com a distrital, as mulheres ocupam apenas 34% dos cargos de liderança sênior das empresas e ganham em média 23% a menos do que os homens. “Ainda temos poucas mulheres como CEOs, políticas, chefes de grandes escritórios de Direito”, enfatizou.

Júlia Lucy falou sobre algumas ações da PEM, como distribuição de cesta básicas para mulheres em vulnerabilidade social, bem como o auxílio no acesso ao dispositivo intrauterino (DIU) e à laqueadura. Para ela, a burocracia dificulta o acesso às políticas de planejamento familiar, o que pode resultar em abortos clandestinos. Lucy lembrou que a PEM promoveu audiência que discutiu as políticas voltadas às crianças, tema que, segundo ela, impacta na qualidade de vida das mães: “Se a gente oferece cuidado e zelo para a nossa primeira infância, a gente oportuniza que mulheres permaneçam no mercado de trabalho”.

A cineasta Núbia Santana contou sobre sua experiência de dificuldade e superação, que a levou a produzir o filme “Brasília 60 anos – Empreendedorismo Feminino” e a desenvolver projetos sociais. Para ela, as mulheres “precisam, às vezes, apenas de uma palavra de inspiração”, ressaltando que a trajetória feminina é “muito mais difícil do que a dos homens”. A advogada e ativista social Andrea Hoffmann afirmou que a mulher não deve renunciar à feminilidade para ocupar espaços de liderança, e sim utilizá-la a seu favor. “A gente nunca vai ser homem e acaba se desconstruindo, vira uma coisa estranha, e a gente nunca vai ser feliz”. Para ela, é importante conhecer a própria vocação, “para a gente ser completa onde estiver”.

Para a ativista e advogada especialista no direito das mulheres Lúcia Bessa, é importante que haja união entre as mulheres em busca da transformação. “A dor da outra tem de ser a nossa dor também. Precisamos exercitar nossa empatia, senão a gente não sai do lugar”. Bessa relatou a dificuldade em vivenciar “as mazelas”, que ela própria já sofreu, em suas ações sociais. “Vivi uma situação como essas e ainda hoje, pertinho da gente, na capital da República, há mulheres sem luz, sem água, sem condições mínimas sanitárias e criam seus filhos nessa situação, muitas vezes sozinhas”, salientou.

A diretora de Políticas Públicas do Livres, Isabela Patriota, afirmou que os ambientes de poder são hostis à mulher e frisou que os problemas são maiores após o casamento e a maternidade”. Por isso, ela defendeu como prioritárias as políticas de planejamento familiar e da primeira infância, a fim de garantir que as mulheres tenham liberdade de iniciar uma família quando acharem conveniente. “Não tem problema se a mulher quer cuidar da casa ou se dedicar aos filhos. A questão é saber quando há imposições externas”, explicou.

Para a comunicadora Mônica Nobrega, a comunicação é uma das armas para se promover a equidade de gênero e o combate à violência contra a mulher. Assim como Hoffmann, ela afirmou que é importante conhecer a própria vocação e utilizá-la em benefício próprio. “Para romper barreiras é preciso saber qual é a nossa, qual o custo disso, e saber que para mudar é preciso começar. Por isso, a minha arma é a comunicação, gatilho para gerar mudanças”.

A presidente do BPW Brasil e diretora administrativa do SindVaregista, Bernardeth Martins, destacou a importância da capacitação para o empoderamento e a independência financeira da mulher. Ressaltou também que é preciso “correr atrás, batalhar por todos os direitos, e conscientizar os próprios homens”. A empresária Tânia Rezende, presidente do Conselho Nacional da Mulher Empresária, frisou que a situação das empreendedoras, que segundo ela faturam 30% menos que os homens, piorou durante a pandemia. Ela destacou que é preciso investir na educação empreendedora e na conscientização. “A gente precisa educar nossos meninos a compartilhar mais as atividades do dia a dia para que essas jornadas sejam mais justas”.

Escolas fechadas – Júlia Lucy criticou o fechamento das escolas durante a pandemia. De acordo com ela, muitas mães estão sofrendo com a medida, mas não protestam. “Nó temos por obrigação lutar por elas, que não sabem nem lutar. Ou a gente se une e dá a mão para essas mulheres ou a situação vai piorar muito”, afirmou. Ela também ressaltou que “as crianças e jovens já estão expostos nas ruas” e que não houve aumento de casos da Covid-19 quando as escolas privadas reabriram. Utilizando exemplo dos Estados Unidos, Izabela Patriota defendeu que os recursos das escolas fechadas sejam destinados para as famílias dos estudantes. Lúcia Bessa ponderou que as famílias têm medo da pandemia e que estamos em uma “situação caótica” no país. “Eu não repreendo nem julgo essa mãe que deseja que o filho não volte às escolas”, afirmou.

Mário Espinheira
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